Reformar uma casa dos anos 1980 em Brasília significou mais do que atualizar acabamentos ou redefinir espaços. Foi um exercício de resgate, reinterpretação e permanência. O projeto da Casa Cactus nasce do desejo de dar novo fôlego a uma residência que guardava ainda a essência de uma boa arquitetura.

Concebida originalmente em alvenaria estrutural, a casa apresentava trechos condenados, exigindo um criterioso trabalho de reforço e recuperação estrutural. Essa etapa técnica foi o ponto de partida para a reconfiguração dos espaços, sem perder de vista a planta original de desenho simples, otimizada e funcional, e que de certa forma orientou as novas decisões projetuais.

A antiga varanda deu lugar a uma nova área de lazer integrada, onde se articulam estar, espaço gourmet e piscina, conformando uma sequência fluida entre interior e exterior. A cobertura em concreto aparente e o uso expressivo da madeira estabelecem o tom da intervenção: uma linguagem contemporânea e atemporal, que valoriza texturas naturais e a materialidade construtiva.

A relação com o jardim é protagonista. Grandes aberturas e planos envidraçados dissolvem os limites da casa, permitindo que a luz natural e a vegetação se tornem elementos de composição. O paisagismo envolve os espaços com generosidade, e um novo acesso de pedestres, imerso em verde e ladeado por um espelho d’água, confere ao percurso um caráter quase ritual e simbólico, reforçado pela presença de um painel de azulejos de inspiração religiosa.

No interior, o mobiliário mescla peças contemporâneas e ícones do design brasileiro, criando uma atmosfera acolhedora e sofisticada. As texturas do concreto, da madeira e dos tecidos naturais compõem uma paleta serena, que dialoga com a luz e com o ritmo orgânico do jardim.

Mais do que uma reforma, a Casa Cactus é uma reconstrução de identidade — uma síntese entre memória e contemporaneidade, entre técnica e emoção.